lugares e sensações

quinta-feira, abril 16, 2009

Zagora a Marrakech

A despedida, se Deus quiser e Alá permitir

É hora de voltar para norte. É uma viagem longa passando por Ouarzazate e o Atlas. Até Agdz segue-se ao longo do Vale do Draa que depois se afasta para oriente.
À hora de almoço estamos já em Ouarzazate e após um longo almoço, porque o empregado não tinha pressa, nem viagens para fazer,...lá fomos novamente para o carro.
Liga-se a ignição, inicia-se a marcha, mas o velocímetro não sai do zero.
À entrada de todas as cidades e, algumas aldeias marroquinas, há um ou mais polícias a controlar a velocidade e a fazer operações de stop por vezes usando plataformas com pregos para os que não param ao comando do primeiro polícia.
Não ter velocímetro podia ser um problema sério,...
Optamos por desligar o carro, voltar a ligar, mas o carro não era da microsoft e ficou na mesma. Andava sim mas, o velocímetro mantinha-se no zero. Opção seguinte- umas pancaditas no tablier. E não é que resolveu o problema?! Seguimos sem mais demora cumprindo os limites impostos pela lei marroquina, sem qualquer problema e sem qualquer operação Stop.

A paisagem depois de sair do vale do Draa é seca, desértica, completamente agreste mas, contudo espectacular.



Chegamos a Marrakech à noite e encontrar o hotel não foi fácil. A periferia da cidade é confusa e sem sinalização. O hotel tinha uma placa na estrada, mas à noite as letras eram imperceptíveis. Na periferia de Marrakech, incluindo na recepção do clube de golfe, ninguém conhecia o hotel e só após telefonar para lá conseguimos atinar com o caminho.
Esperava nos uma residência marroquina muito bonita com uma gerente simpática e prestável.
Por ser a última noite resolvemos ir jantar à Praça Jma el Fna. Fomos sem problemas de maior embora a condução fosse caótica, deixamos o carro perto da Koutoubia. Correu tudo bem até um de nós ser abalroado na passadeira por uma motorizada sem luz e sem travões, conduzida por um jovem cuja única propriedade devia ser aquilo. Chegou a policia, cheia de medalhas e galões na lapela, chegou o bêbado (não é proibido o álcool nos países muçulmanos?) a dar ordens ao policia (em árabe), juntou-se uma multidão. Foi chamada a ambulância. Apesar do sangue na cabeça, dores em todos os ossos, lá convencemos os maqueiros que não precisávamos de ir para o hospital. Chegou então a segurança nacional, uma espécie de polícia que manda mais que os outros e que fazem lembrar os polícias dos filmes franceses. Confiscaram a motorizada, ficou logo na carrinha patrulha, tomaram os nossos passaportes, perguntaram se queríamos participar do jovem. Dissemos que não, mas, isso não resolveu nada. Queríamos sair daquele filme, ir para o hotel lavar a ferida, desinfecta-la, mas qual quê. Tivemos que seguir o carro da polícia e ir ao quartel fazer um depoimento. Assim foi. Estacionamos à frente da porta, ao lado do carro que tínhamos seguido e fomos convidados pelo polícia de guarda da porta, de metralhadora em punho, para sairmos dali, e mudamos de sítio. Estacionamos correctamente a viatura e entramos no quartel. A sala tinha duas secretárias, computador e cadeiras para os polícias e civis. Sentamo-nos, depois de nos convidarem a fazê-lo. Na parede estava um mapa com as estatísticas de acidentes em Marrakech com atraso de cerca de dois meses. Perguntaram nome do pai, mãe, suas idades, profissão, morada, dados fundamentais para o caso. Enquanto o polícia escrevia no computador uma mensagem persistia a meio do écrã, o polícia não se incomodava com ela, devia ser comum. Após uma longa descrição em francês que era escrita em árabe lá saiu a impressão, em duplicado, da participação de acidente, escrita em árabe. Mandaram-nos assinar. Devemos ou não assinar uma participação em árabe? O nosso avião era na manhã seguinte e nós precisávamos do passaporte que continuava nas mãos da segurança nacional... Seja o que Deus quiser e Alá permitir. Assinamos. Deram-nos os passaportes e deixaram-nos vir embora. Agradecemos a atenção. Apesar da burocracia completamente desproporcionada fomos sempre tratados com educação e respeito e fizemos o mesmo. O que seria se quiséssemos participar do desgraçado da motorizada?
Seguimos para o hotel, desta vez sem mais percalços. A porta foi aberta por um miúdo de cerca de 13 anos que aquela hora devia estar a dormir...
Na manhã seguinte os únicos hóspedes do hotel, nós, seguimos para a borda da piscina tomar um pequeno-almoço revigorante sob um céu azul e uma música ambiente que nos lembrava a Europa, mais propriamente França, La Bohème - de Charles Aznavour. Soava doce e lembrava a nossa casa depois de uma noite atribulada.
Marrocos, os picos nevados do gigante que segura os céus, as planícies secas, onduladas com oásis a perder de vista, o riso dos meninos de Zagora, o céu estrelado imenso, as boas vindas no dia de natal no Hotel Timbouctou, as dunas fabulosas de Erg Chebbi, a cidade rosa e sua Praça das pessoas, tudo ficou para trás quando levantamos voo na direcção de Madrid excepto as lembranças que trazemos, valeu a pena.



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